O blog umapedradesal faz hoje 6 anos. A sua criação foi ideia do marido. Inicialmente não achei nada boa ideia. A minha filha tinha acabado de fazer 2 anos, tinha um emprego a tempo inteiro no banco e um a tempo parcial, à noite e nas horas de almoço, como professora de dança. A última coisa que me apetecia era ter mais sarna para me coçar. Mas ele tinha razão numa coisa... Nunca apontava as receitas que fazia, as ideias que resultavam bem e um blog obrigava-me a organizar. Funcionaria como um livro de receitas on-line. E foi criado...
E de repente percebi que havia pessoas do outro lado. Que foram chegando por convite dele. Outras encontraram o blog por acaso. Mas que o número de seguidores foi engrossando. De repente tenho colegas a dizerem-me que experimentaram a receita x e y e adoraram. Tenho reciprocidade! De repente percebo que não é apenas um livro de receitas meu, mas um livro de receitas que partilho com todos os que vêm por bem em busca de inspiração...
E o tempo foi passando. Exatamente 6 anos de muitas partilhas e alguns momentos de interregno... Continuo a ter um emprego a tempo inteiro e uma filha com 8 anos (que me consome muita energia)... As danças ficaram pelo caminho, pelo menos a responsabilidade de organizar espectáculos e preparar aulas. O blog mudou em função da mudança de estilo de vida cá de casa. No entanto eu continuo a mesma, 6 anos mais velha, mas sempre com a melhor das boas vontades em partilhar tudo o que sei com quem vem em busca de ideias e inspiração.
Quem me/nos segue sabe que no último ano as receitas mudaram ligeiramente. Comer bem sempre foi uma preocupação cá de casa. Sempre apostamos em produtos da época. Sempre descascamos mais e desembalamos muito pouco. Mas porquê a mudança?
Por incrível que parece contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que nos perguntaram porquê. É mais fácil concluírem que a razão se prende com o apelo das dietas da moda, ou a vontade de perder peso. Mas nada disto teve por base na decisão de mudar.
Sabem... Há alturas na vida em que levamos sustos a valer. Daqueles que nos abalam os alicerces e em que pensamos que é demasiado cedo para morrermos, até porque temos uma criança com 8 anos, certo? E nessas alturas tendemos a procurar soluções que a medicina tradicional não parece ter. Uma solução holistica. Sem contra-indicações inscritas numa bula.
E em setembro de 2016 falei com o marido e disse-lhe o que queria tentar fazer. Que tinha lido bastante, estudado o tema da alimentação paleo, pesquisado diversas fontes e que mal algum existiria em tentar. O Mário alinhou. Como sempre o faz, sem hesitar...
De setembro a dezembro de 2016 gastamos/consumimos tudo aquilo que ainda tínhamos na dispensa e que não voltaríamos a consumir - leguminosas, bolachas, massas, arroz, farinhas, gelatinas, etc.
E no dia 1 de janeiro de 2017 embarcamos numa das maiores aventuras da nossa vida. Fizemos sempre tudo da forma que melhor se adaptasse ao nosso estilo de vida. Começamos primeiro por fazer os pratos do costume e alterar o acompanhamento. Carne/peixe grelhado, estufado, cozido, assado. Onde antes havia puré, arroz ou massa, passou a existir legumes salteados, vegetais cozidos ou assados, saladas. Gradualmente fomos mudando hábitos. Gradualmente fomos simplificando e desintoxicando o organismo. Que, não escondo, se ressentiu. Tivemos sintomas de privação, irritabilidade, quebras de açúcar... Duraram 4/5 dias, mas existiram. Nada se faz sem força de vontade e confesso que foram os momentos mais complicados. Que já lá vão... Voltaria a fazer tudo de novo.
Alguns perguntam, a Joana também come da mesma maneira? Ela gosta muito de dizer a toda a gente que é "pálida". Mas se me pede arroz ou massa para acompanhar o almoço ou jantar, claro que lhe faço. Até porque se trata de uma criança e não consigo apagar, sem mais nem menos, os últimos 6 anos em que experimentou tudo e não tem uma motivação plausível para deixar de comer o que gosta... E depois há a escola, e os lanches dos colegas... E o bar onde se vendem mentos e folhados mistos... E nenhuma criança com 7 anos quer ser a esquisita do recreio... Mas acredito que o exemplo a vai fazendo mudar e a verdade é que um ano depois já come muito menos doce e acompanha praticamente tudo com legumes e salada. E os lanches têm cenouras e manteiga de amêndoa e panquecas feitas em casa e não manhazitos... No caso dela enfrentamos uma dificuldade acrescida... Não gosta de ovos. E isso complica bastante porque pelo menos o pequeno almoço não será igual ao nosso na maior parte dos dias. Mas aos poucos, estou convencida que ela caminhará a passos largos para o nosso estilo de vida. Ela já percebe o conceito e às vezes é ela que explica nos restaurantes que somos paleo e que em vez de batata e arroz queremos salada e legumes cozidos. Di-lo com orgulho! Especialmente que não gosta de batatas fritas e refrigerantes!
O segundo passo foi começar a preocupar-me com a qualidade do que compro. A lista de compras reduziu-se abruptamente, mas não imagina as rasteiras que ainda assim encontramos quando vamos às compras! Passámos a demorar horas nos supermercados. Tudo tem Es, corantes, conservantes... Tudo ou quase tudo... Em especial tudo o que estiver embalado e que por vezes tanto simplifica a vida a quem trabalha. Gradualmente começamos a perceber que os ingredientes se encontram por ordem decrescente da sua presença. Que um chocolate negro nem sempre tem cacau como primeiro ingrediente, mas açúcar. Que a manteiga nem sempre é apenas gordura e sal. Que o presunto e o bacon têm carradas de açúcar. Que até os legumes congelados e o camarão têm sulfitos e conservantes. E o objetivo será sempre tentar comer o mais naturalmente possível... Importa no entanto dizer que embora seja um objetivo, não fazemos disto um cavalo de batalha. Se formos comer fora, ou a casa de amigos/familiares não vamos questionar a origem das coisas. Quando somos nós que compramos, a história já é diferente. Dá trabalho? Dá... Não compramos legumes embalados, temos de os "processar". Sim não compramos salada de pacote! Deixámos também de consumir algumas marcas que usávamos há muitos anos, assim que lhes lemos os rótulos. Mas ganhamos outras coisas muito positivas... Saúde! Energia! E muitos cms e kg perdidos...
O terceiro passo e depois de percebermos que este é o caminho que queremos seguir, há algumas questões a vencer. Nunca fui obesa, nem nunca tive excesso de peso. Pesei no máximo 62 kg ao longo da minha vida e meço 1,60m. Hoje peso 52 kg. Passei de um 38/40 de roupa para um 34/36. Há lojas onde os S me ficam largos. Tive de trocar todo o guarda roupa. As cuecas caiam-me da anca. Diminuí um número de sapato... Foi propositado? Não. Mas a reprovação social não se fez esperar... A família e os amigos vêem sempre a perda de peso com preocupação. E naturalmente aconselham-nos a comer "normalmente" para não apanhamos uma doença... Quem já não nos vê há algum tempo tece comentários depreciativos do género "estás tão magra? Tens algumas doença? Não percas mais peso porque te fica mal!" Nunca vivi obcecada com o meu peso. A perda destes kg e cms deve-se exclusivamente a ter deixado de comer açúcar, cereais e leguminosas, mas à minha volta muitas são as vozes obcecadas com a minha perda de peso, como se isso fosse o mais importante. Penso que realmente vivemos num mundo estranho... Em que afinal gordura ainda é formosura... É chato. Muito chato.
Bom, mas há mais... Há a questão social... Um, a pressão dos amigos e família com quem partilhamos refeições. Que nos tentam convencer a comer uma fatia de bolo, ou um bocado de feijoada de chocos, com a desculpa de "é só desta vez", "não sejas radical". Como se este compromisso fosse uma mera teimosia... Mas o que eles não sabem é que me sinto realmente mal quando como fora do meu regime... A barriga queixa-se, a cabeça dói, o corpo ressente-se e rejeita.
Dois, o facto de não haver nada que possamos comer numa pastelaria/café e por isso já não vamos a pastelarias/cafés. Não há opções para nós. Ou nos cofee break de conferências... Ou nas viagens de avião... Passamos a ver o mundo de uma forma bem diferente e a fazermos uma festa quando descobrimos os nossos "pares". Isto é, quando encontramos outros nos supermercados a ler os rótulos, ou quando vamos a restaurantes que já têm sobremesas paleo, ou quando ouvimos alguém falar de turbinados. Conhecemos a gíria! Tão bom...
Mas vamos por partes, sim? O que ganhei afinal com tudo isto? Importa referir que um ano e três meses depois deixei de ter anemia (que nunca consegui curar com doses de ferro desde os meus 12 anos). Deixei de ter colesterol (sim era uma magra falsa). Não me constipo, nem tenho pneumonias há 1 ano e três meses o que nunca aconteceu desde que me lembro... O meu sistema imunitário nunca esteve tão reforçado. Durmo melhor! Não ando sempre cansada, nem tive mais crises de hipoglicemia. Tenho muita energia (até já corro!). E o mais importante de tudo... Deixei de ter a espada em cima da cabeça... O susto tinha passado, como que por magia e nunca me vou esquecer do olhar incrédulo do médico a olhar para aquela ressonância magnética. Coincidência? Acho que não. Somos o que comemos e não tenho dúvidas disso.
O que comemos? É uma pergunta recorrente. Tentamos comer o mais simples possível, de forma idêntica ao que os nossos antepassados do paleolítico comiam, mas com alterações. Sim não vou comer a comida crua, nem vou andar a caçar/pescar. Simplificando: como carne (ovos incluídos), peixe (marisco e molusculos incluídos), fruta e vegetais ... E alguns extras... Trocando por miúdos, qualquer carne, ovos, qualquer peixe, marisco, molusculos, conservas em azeite (atum, cavalas, sardinhas), qualquer fruta e qualquer vegetal (falo de verdes, tomate, pepino, abóboras, beringelas, feijão verde, pimentos, ervilhas tortas, batata doce, mandioca, beterraba, cenouras, etc). Adicionalmente comemos frutos secos (nozes, amêndoas, avelãs, cajus), frutas secas (tâmaras, passas, figos) e às vezes chocolate negro (+ de 85% cacau) especialmente na TPM. Esporadicamente e porque não tem efeitos negativos, comemos iogurte grego, manteiga, queijo e presunto. Gorduras usamos azeite extravirgem e óleo de coco prensado a frio. Para adoçar, e muitooooooo raramente, mel ou açúcar de coco. Resumindo, comemos tudo o menos processado possível, com ingredientes que conhecemos bem, preferencialmente sem serem processados antes de chegarem às nossas mãos. Não comemos leguminosas (amendoim, tremoços e ervilhas são leguminosas), cereais, açúcares refinados e processados no geral (e não imaginam o que isto inclui)....
Se gasto mais? Outra coisa que me perguntam muito. Não... Não gasto mais. Mas tento fazer escolhas inteligentes. Compro ovos sempre que possível a um produtor que tem galinhas criadas ao ar livre. Vou a mercados. Compro legumes a produtores locais. Tento comprar peixe do mar e carne de pasto, mas sem grandes radicalismos. Pesquiso muito. Claramente descascamos muito e desembalamos muito pouco. Já não entramos na maior parte dos corredores dos supermercados e adoramos passar horas a ver o que os outros levam nos seus carrinhos.
O mais difícil? Bom. Nem tudo é um mar de rosas, claro. Tenho saudades, muito raramente, do pão... Das massas... Hoje já não penso nisso, mas inicialmente, custou... O que fazer ao pequeno almoço foi a minha maior dor de cabeça nos primeiros tempos e por isso normalmente é aquela refeição que deixa toda a gente à toa quando quer iniciar este estilo de vida. Exatamente porque vivi essas dificuldades decidi que desde o dia 1 de janeiro deste ano (1 ano depois de ter adotado este estilo de vida) passaria a publicar todos os pequenos almoços cá de casa. Espero dar-vos a ajuda necessária caso decidam dar o primeiro passo neste estilo de vida. Descompliquem e deixem para trás as ideias pré-concebidas do que deve ser o pequeno almoço. Porque não sopa? E se não têm fome, não comam... É normal sentirem-se saciados. Não passamos fome nesta alimentação. Não precisamos de lanchar ou cear. Comemos apenas e só quando temos fome, sem regras!
A verdade é que crescemos com mitos. Comer de 3 em 3 horas, os ovos fazem colesterol, ao pequeno almoço come-se pão e bebe-se leite, etc... E é uma chatice pensarmos fora da caixa. E depois a fórmula que em mim resulta não quer dizer que resulte para toda a gente. Vencermos tudo isto é uma batalha só nossa que ajuda muito, claro, fazer a dois ou a três. Mas no fim, honestamente, compensa. Já me esquecia, o Mario perdeu 15 kg e ganhou saúde!
Hoje o meu paladar mudou. Não sinto necessidade de adoçar nada. Não sinto o apelo dos doces bonitos expostos, ou das sobremesas a seguir ao almoço/jantar... Vibro quando encontro legumes acabados de colher, ou ovos de galinhas felizes. E aos poucos tentamos que este estilo de vida, esta simplificação, influencie outras partes da nossa vida. Aos poucos vamos conseguindo.
Termino com uma ideia. O estilo de vida paleo pode ser mais ou menos restrito... O nosso foi adaptado ao nosso estilo. Sem fundamentalismos, porque o objetivo não é perder peso, mas sim ganhar saúde. Sempre com equilíbrio. Claro, continuo a estudar. A perceber porque posso comer batata doce, mas não é aconselhável comer batata comum. Porque não devo comer demasiada fruta... Mas a decisão final é minha. É nossa.
E hoje fico por aqui. Devia este texto a quem me procura regularmente. A quem me tem colocado dúvidas. A quem sei que inspiro. Esta sou eu, esta é uma parte da minha família e estilo de vida. Caso tenham dúvidas ou queiram fazer questões, podem sempre utilizar o e-mail do blog umapedradesal@gmail.com, ou a página de facebook, ou os comentários do blog. Sejam felizes e procurem o caminho que vos faz feliz! Estejam atentos ao vosso corpo e às mensagens que ele vos transmite!
Muitos Parabéns :)
ResponderEliminarNão sou radical quanto a dietas, mas confesso que sou muito atenta à alimentação cuidada e saudável e gosto de saber sempre mais sobre este tema que me é tão querido, daí gostar de ler e acompanhar quem como eu assim pensa.
Obrigada pela partilha e continua por longos e bons anos, ou a aqueles que quiseres.
Romã :*