Sendo eu uma pessoa extremamente ativa, talvez pareça incompreensível que trocasse a vida que tenho na cidade pela hipótese de viver no campo e criar a minha filha fora do reboliço das grandes cidades. Claro que é uma utopia… Porque para viver no campo seria necessário dinheiro que não tenho. Porque para viver no campo seria necessário não vedar à Joana todas as oportunidades que tem em Lisboa e isso não parece possível. Porque preciso de algumas das infraestruturas que o nosso país interior não oferece.
Apesar de todos estes senãos, o meu lado utópico continua a sonhar, enquanto o meu lado racional me vai agarrando ao chão e diz que é impossível desamarrar as responsabilidades e compromissos que tenho por aqui. E basicamente vou vivendo cá e lá, entre a grande cidade e o ‘quase’ campo que Milfontes oferece, mais no Inverno é claro, quando é menos estância balnear e quase não há pessoas na rua.
Desde que fixei morada por lá que tenho tido a preocupação de fazer algo que não consigo em Lisboa: tentar comprar diretamente ao produtor, experimentar novos sabores, o que é tradicional e sazonal. Claro que em Lisboa tenho o PROVE, mas ali tenho o campo e até a forma como se criam os legumes/frutas parece diferente e sabe diferente. Já para não falar nas diferenças na cor das gemas dos ovos de lá comparativamente aos que compro em Lisboa (que dizem que são de galinhas à séria, de capoeira). Já para não falar dos frangos criados, verdadeiramente do campo, que fazem três refeições, quando não quatro, lá por casa e que sendo da mesma ‘marca’ que os de Lisboa nada têm a ver. Há tantas disparidades que não entendo…
Bom! Para quem não sabe, ali por terras de Odemira inúmeras empresas agrícolas resolveram fixar arraiais e é ver campos e estufas um pouco por todo o lado. Foi uma enorme surpresa para mim. Julgava eu que era só a Vitacress na Boavista dos Pinheiros, quando um passeio mais à séria nas redondezas me mostrou que esta é apenas a mais conhecida dos portugueses. Há inclusive empresas estrangeiras a operar por aquelas bandas, cujos legumes e frutas nem param em Portugal, são todas para exportação! É incrível os quilómetros e quilómetros de extensão de estufas e terreno plantado. Claro está que me perguntei a mim mesma se não podíamos comprar diretamente nas estufas. Isso sim, seria ouro sobre azul!!! Pois… À primeira recusa, nem tentei mais … Até à última ida a Milfontes!
Mas foi a conversa com a Neusa que mais me agradou (a representante da AHSA - Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano). Não só pelo nabo enorme que me ofereceu (em breve mostro as coisas boas que têm sido feitas!) e pela cenouras baby deliciosas que provei, mas também porque tive a oportunidade de visitar posteriormente as instalações da Frupor e conhecer também a Rosa. Apesar de pouco estar operacional nesta altura do ano, é incrível a forma como uma exploração desta dimensão funciona. E acreditam que no mesmo lugar há uma herdade de turismo rural deslumbrante - Herdade da Frupor? Realmente há mais no nosso país do que poderia imaginar! E depois de pesquisar um pouco, é incrível descobrir que existe um país diferente dentro deste país que às vezes tão triste e desiludida me deixa. Para terem uma ideia resumida do que falo, esta Associação de Horticultores, reúne 10 empresas da zona que no seu conjunto ocupam cerca de 2.000 hectares de terreno, empregam 2.500 pessoas e faturam 70 milhões de euros! Empresas que exportam grande parte da sua produção!!
Depois da conversa e da visita à Frupor (um espetáculo!!! Obrigado Rosa!), deu ainda para dar uma voltinha ali por aquelas bandas e conhecer os campos, sem fim, plantados de mirtilos e framboesas, das empresas da zona! Atlantic Growers, Maravilha Farms, Sudoberry e Driscoll, são apenas algumas destas empresas… De tantas mas tantas…
Confesso que eu nem sabia que estes frutos eram cultivados em Portugal, quanto mais que eramos um dos maiores abastecedores do Norte da Europa, tão apreciadores destas bagas fantásticas que sabem a sol e a mar do litoral alentejano. Bagas colhidas e vendidas a quem quiser comprar, diretamente ao produtor, por menos de um terço do preço de um grande superfície. Pois comprei, provei e fiquei fã! E estou certa que serão muitas as minhas passagens por aquelas bandas no futuro. Empresas carregadas de coisas boas, a que não temos praticamente acesso, porque a procura interna não chega nos dias que correm…
Como devem calcular, a semana que estive em Milfontes deveria ter sido uma semana de descanso, mas que descanso pouco teve e em breve vão desfilar por aqui algumas das coisas boas que por lá fiz. Espero que gostem e que possam sentir pelo menos metade da minha satisfação e entusiasmo. Há coisas que não têm preço e poder provar e transformar produtos frescos e sazonais, que não pertencem ao meu dia-a-dia deu-me um prazer imenso e anseio por dias iguais na volta ao meu paraíso, em breve!
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